Friday, December 12, 2008

É GRAVE A CRISE

A moeda permite que os preços de milhões de coisas incomensuráveis sejam expressos em unidades de um bem homogêneo. É por causa da moeda que se consegue transitar racionalmente pelo complicado mundo econômico, calculando-se o valor relativo do que se quer e do que se precisa, do que se pode e do que não se pode ter.

A taxa de juros reflete a proporção entre gastos e poupança das pessoas, entre o presente e o futuro. É graças a ela que os empresários conseguem planejar racionalmente os investimentos com os recursos que a taxa de juros mostra que estão disponíveis. Moeda e taxa de juros são marcos absolutamente indispensáveis de racionalidade econômica que pressupõem um quadro de instituições, como a propriedade privada, e virtudes, como a honradez pessoal, que são insubstituíveis.

Acontece que o sistema político contemporâneo não pode funcionar senão destruindo a moeda e falsificando a taxa de juros. Isso elimina a racionalidade e resulta em distúrbios econômicos graves. Dessa forma, o sistema político contemporâneo destrói a possibilidade de prosperidade material crescente que é um fundamento essencial para sua própria existência. Essa contradição insolúvel, que resultará mais cedo ou mais tarde num colapso social desastroso, decorre de que o “cidadão comum” quer a prosperidade econômica contínua e eterna, mas não quer compreender as bases de sua possibilidade, nem fazer os sacrifícios e assumir as responsabilidades que ela demanda. Não adianta condenar somente as "elites" pela nefasta cultura moderna. O "povo" também tem culpa no cartório.

O “cidadão comum” das modernas democracias exige a riqueza que somente o capitalismo propicia, ao mesmo tempo em que não abre mão da tutela estatal de todos os aspectos de sua vida, que somente o socialismo pode oferecer. Essa síntese capitalista-comunista é, claro, ilusória e impossível. O drama da atualidade é que essa ilusão impossível é o objetivo para o qual convergem todos os vetores políticos, culturais e intelectuais influentes. A corrupção da mentalidade vigente é tão profunda que, creio, não tem mais conserto. Vamos até o amargo fim, que não sei quando virá, espero que demore ainda, mas sei que vem por aí.

A crise econômica atual, como todas, decorre sobretudo da ingerência estatal na moeda e na taxa de juros, que infunde irracionalidade num sistema em que todo mundo atua presumindo racionalidade. A inflação bagunça o cálculo econômico e os juros baixos sugerem uma abundância inexistente de recursos para investimento. Para piorar as coisas, o crédito barato chegou também aos consumidores (o que não acontecia antes, ao menos na escala de hoje), que, nos Estados Unidos, se endividaram terrivelmente.

A atuação econômica tem um elemento subjetivo, as avaliações que as pessoas fazem da realidade, e um elemento objetivo, que é a própria realidade. O controle estatal da moeda e do juro interpõe uma barreira entre as pessoas e a realidade econômica, que é substituída por miragens. As avaliações que se baseiam em miragens serão necessariamente errôneas.

Essa dissonância entre as análises subjetivas e a realidade objetiva tem limite num dado existencial inafastável, a escassez, que o Estado tenta abolir, mas que a crise econômica subitamente revela. Trata-se de um choque de realidade, um duro despertar do mundo de sonhos. Os consumidores, poupadores e investidores estavam baseando seus planos em uma situação objetiva irreal. O certo a se fazer é deixar acontecer o ajuste subjetivo ao real. É doloroso, mas não há outro remédio. Empresas cortam custos e limitam investimentos. Consumidores renunciam ao supérfluo para equilibrar as finanças. Todos refazem seus projetos. Feita a adaptação dos planos ao estado objetivo da economia, a normalidade retorna.

O problema é que deixar acontecer essa acomodação entre os elementos subjetivo e objetivo da economia, que é a única saída para a crise, é politicamente mais inaceitável agora do que jamais foi. O “cidadão comum” não admite ter que apertar o cinto, pagar suas dívidas, cortar despesas, mudar de emprego. Ele não aceita sofrer desconforto algum. Ele espera que o Estado dê um jeito de manter tudo como está. Ele admite que o Estado use qualquer meio para atingir esse fim, mesmo a estatização de bancos, seguradoras, grandes empresas, de tudo.
O "cidadão comum" espera que o Estado providencie "liquidez", isto é, mais dinheiro, mais inflação, que a taxa de juros seja negativa. Ele quer ser pago para tomar dinheiro emprestado. É claro que isso paralisa a economia pela impossibilidade de se fazer o acerto de contas dos agentes com a realidade, aprofunda as distorções e, em última análise, destrói a própria moeda e a economia junto com ela. Já se fala em trilhões de dólares com a maior naturalidade. Em breve serão quatrilhões e o dólar vai para a vala comum do nosso cruzeiro, cruzado, mil-réis, cruzado novo etc.

Essa situação deprimente se consolidou também nos Estados Unidos. Já vão longe os tempos em que o “cidadão comum” americano era o fazendeiro ou comerciante cioso de sua autonomia e independência, transitando num meio moral religioso. O “americano médio” de hoje tem a mente completamente estatizada e aceita de bom grado a total amoralidade liberal reinante. Ele espera de Barack Obama a cura de todos os males econômicos, desde que não tenha que fazer sacrifícios pessoais. Ele vai aplaudir tudo o que o novo presidente fizer, mesmo que dê completamente errado e não resolva nada. Aí ele vai exigir providências ainda mais drásticas que também vão falhar e assim por diante. Não é um círculo vicioso, mas uma espiral descendente que acabará muito mal. É o mesmo filme do New Deal de Roosevelt, só que o "remake" tem tudo para ser ainda pior.

Thursday, December 4, 2008

Já Vão Tarde

A derrota do Partido Republicano nas eleições dos Estados Unidos foi, para mim, motivo de muita satisfação. Vejam só como são as coisas. Quando George W. Bush ganhou de Al Gore em 2000 eu também fiquei satisfeito. É que eu era ingênuo e acreditava na retórica anti-esquerdista dos republicanos. Que ilusão! O consenso globalista e progressista nos Estados Unidos é tão forte que as diferenças entre Bush e Gore eram irrelevantes.

O que se poderia esperar de um governo genuinamente conservador? Para começar, entre muitas outras coisas, no âmbito interno, algo como:

1- Drástica redução de gastos públicos e da carga tributária.
2- Drástica redução da dívida estatal e eliminação do déficit público.
3- Drástica revogação de legislação burocrática e eliminação de burocracias nefastas, em especial a legislação e a burocracia ambientalista.
4- Extinção da previdência estatal e adjacências assistencialistas.
5- Extinção do imposto de renda, do banco central e retorno ao padrão ouro.
6- Extinção de toda interferência estatal na educação.
7- Devolução aos estados federados das competências usurpadas pela união.
8- Eliminação de todos os subsídios e tarifas alfandegárias.

No âmbito externo:
1- Denúncia do tratado da ONU e expulsão dessa organização e suas ramificações do território americano.
2- Retirar-se do FMI, Banco Mundial e instituições semelhantes.
3- Retirar-se da OTAN e todas as alianças militares similares.
4- Abandonar todas as bases militares no exterior.
5- Fim da doação de vastas somas de dinheiro e armas a governos “amigos”.
6- Restauração da competência do Congresso de declarar guerra e fazer a paz, usurpada pelo executivo.
7- Denunciar e refutar a farsa ambientalista global

Se o autoproclamado conservadorismo do Partido Republicano tivesse algum significado autêntico seria um retorno aos princípios filosóficos e ao sistema de governo concebido e estabelecido pelos fundadores da república. Acontece que, malgrado contassem com maioria no Congresso e ocupassem a presidência durante oito anos, os republicanos sequer tentaram reduzir o estatismo interno e o imperialismo externo. Na verdade, eles intensificaram ambos. E ainda tomaram dos democratas o programa jacobino de implantar a democracia no mundo inteiro pela força das armas. Em suma, os conservadores se revelaram revolucionários.

O que eles queriam conservar era a tirania central sobre os estados-membros estabelecida por Lincoln, o welfare state de Roosevelt, o imperialismo anti-soviético da guerra fria e tudo o mais a que os verdadeiros conservadores de outrora se opuseram. A conversa de livre mercado, autonomia pessoal e valores religiosos na boca dessa gente é pura ideologia. Em suma, os conservadores se converteram em neoconservadores. Os neoconservadorismo é um progressismo consolidado e ampliado.

A próxima etapa dessa conversão de algo em seu contrário será a adaptação doutrinária para reduzir a lacuna entre o discurso e a prática, fato que, aliás, já vem ocorrendo. Lincoln não era tão mau assim. Roosevelt foi um grande estadista. O conservadorismo necessita ser “compassivo” porque o povo precisa de redes de assistência. As idéias econômicas de Keynes têm muitos méritos. A filosofia social de John Rawls até que é bacana. A ONU é necessária. A democracia é um valor universal. Cabe ao Estado impor a moralidade. O aquecimento global é mesmo causado pelo homem e precisa ser combatido.E por aí vai.

Assim, a surra que levaram os neoconservadores nas eleições americanas é, em si mesma, um benefício para a humanidade. O retorno dos democratas ao governo, contudo, está longe de ser animador. Mas a minha humilde opinião sobre Barack Obama, o messias vingador dos progressistas originais, fica para outra hora .

Tuesday, December 2, 2008

Tempos Boçais

O efeito mais nefasto da crise econômica, por enquanto, tem sido suscitar a fúria opiniática dos “sábios” progressistas (progressistas são os que fazem progredir o mal e o erro), sejam economistas ou não, que ocupam a imprensa. A quantidade de besteiras que eles dizem é de estarrecer. Refutar todas essas asneiras seria uma tarefa hercúlea para algum economista digno do nome, pelo modo como elas se multiplicam. Mas não há economista digno do nome influente o bastante para falar na grande imprensa.

E se houvesse não seria ouvido. Sua voz seria abafada pela gritaria dos progressistas e pela claque treinada para os aplaudir. É difícil escolher o pior entre eles, mas é fácil escolher o mais influente. Não pode ser outro senão o grande, o primeiro e único, Paul Krugman. Esse homem me vem à mente quando lembro daquele poema do Yeats, que fala da falta de convicção dos melhores e da apaixonada intensidade dos piores. Ele é o pior intenso e apaixonado por excelência, chefe de uma legião de piores como ele.

Krugman se acha um economista. Ele é graduado e pós-graduado nas melhores universidades dos Estados Unidos. É professor em Princeton, publicou livros de sucesso e tem uma coluna no New York Times, o jornal mais importante do mundo. Ganhou o prêmio Nobel de economia. É o guru econômico do Barack Obama. Enfim, Krugman “se acha”. Reconheço que ele tem todos os motivos para “se achar”. Está no topo do mundo. É um sucesso absoluto. Mas de economia Krugman não entende nada. Na verdade, entende tanto do assunto quanto Lula domina a física das partículas. Só que ninguém levaria Lula a sério se ele desse palestras sobre física das partículas. Mas todo mundo leva Krugman a sério em economia, inclusive o novo presidente dos Estados Unidos.

Por mais que a rapaziada progressista da Globo, o Zuenir, o Veríssimo, o Anselmo Góis, a Miriam Leitão, assegurem que as geniais teorias de Krugman darão conta da crise, o fato é que não darão. Krugman é keynesiano (logo, não é economista), porém ele quer ser mais do que isso. Ele quer ser o próprio Keynes. Ou mais. Concedo que esse desejo está a seu alcance. O Keynes original bem que tentou ser o conselheiro-mor de Roosevelt na época da crise de 29, só que ele era inglês e seu breviário de feitiçaria econômica (o livro Teoria Geral do Emprego, Juro e Moeda) só saiu em 1936, sem tempo para influir de imediato na alta política. O Keynes redivivo é americano e influente, além do que a teoria keynesiana já é, infelizmente, de domínio público.

Ok, você venceu, Krugman. Pode ser considerar o novo Keynes. E eu cá com meus botões registro que a análise da estatura intelectual do dois Keynes testemunha a decadência cultural da nossa época. O Keynes inglês era mais culto e interessante. E não acreditava numa palavra das maluquices que divulgava.

A teoria keynesiana afirma que o motor da estabilidade econômica é o consumo agregado. As medidas que Krugman recomenda e que serão (já estão sendo) adotadas pelos governos em escala mundial consistem, portanto, no estímulo do consumo por todos os meios necessários. Os governos farão isso criando moeda em grande escala e, entre outras coisas, gastando desbragadamente esse dinheiro novo, nem que seja em obras totalmente inúteis. Como cavar buracos e fechá-los em seguida, que o próprio Keynes recomendava. Em outras palavras, os governos vão inflacionar, vão emitir dinheiro pra caramba, muita coisa mesmo. Vão inflacionar muito mais do que já inflacionam. Vão soterrar o mundo inteiro sob trilhões e depois quatrilhões, quinquilhões, sextilhões de dólares, euros, yens, libras, sucres, pesos, reais etc.

É claro que não vai funcionar. Se inflação criasse prosperidade, o país mais rico do mundo hoje seria o Zimbabwe, cuja taxa anual de inflação está para lá de duzentos milhões por cento. A inflação é precisamente a causa da moléstia, não a cura. A teoria keynesiana é uma completa insensatez e Paul Krugman é um louco de hospício. O planeta está nas mãos de loucos, mas é isso o que acontece quando os melhores desalentam e os piores se enchem de apaixonada intensidade.

Tuesday, November 18, 2008

Me Inclua Fora Dessa



O petismo é um movimento totalitário detestável que, claro, me causa profunda repulsa. Apreensivo com sua irresistível ascensão, fui procurar argumentos intelectuais e morais contra ele no antipetismo. Fiquei algum tempo perambulando na praia antipetista. Identifiquei as “tribos”, observei as pessoas, escutei as conversas, mas nunca me senti realmente à vontade ali. O antipetismo é um aglomerado de correntes que, prestando bem atenção, não se encaixam. E o pior é que, olhando bem de perto, não pude deixar de notar que algumas dessas correntes têm muito em comum com o próprio petismo. O desconforto que sempre senti nessa praia, e não sabia explicar porque sentia, foi se explicando à medida que eu percebia que o antipetismo partilhava com o petismo premissas fundamentais que para mim são inaceitáveis. Inaceitáveis porque são premissas incorretas, erradas, falsas.

Mas esse assunto fica para outra hora. Voltando a tal praia antipetista, uma das “tribos” mais influentes, modernas e antenadas do pedaço era a galera do liberalismo. A companhia parecia agradável e me deixei ficar um bom tempo ali por perto, ouvindo os papos. Como os liberais dizem ter como princípios a preeminência da vida, da liberdade e da propriedade, eu gostei, porque achava que o lance é esse mesmo. Dizem também que se opõem à opressão estatal e eu também gostei. Só pode ser por aí.

Só que não era bem por aí, não. A tribo liberal se subdivide em muitas subtribos. Tem o liberalismo racionalista, o positivista e o empirista, o inglês e o continental, o clássico e o social-liberal, o hayekiano, o keynesiano e muitos outros. Veja-se o livrinho Liberalismo: Antigo e Moderno, do falecido Guilherme Merquior, ele mesmo um afamado liberal brasileiro. Acontece que se você fizer um conjunto com as hipóteses de intrusão estatal na esfera pessoal que cada uma dessas correntes liberais concede, o resultado é mais ou menos o regime soviético! Tudo computado e somado, o liberalismo concede tanto ao Estado quanto o petismo.

Embora diga se opor à intervenção estatal na economia, concede, por exemplo, que o Estado controle a oferta de moeda e os bancos por meio de um banco central, como apregoa o monetarismo de Chicago. Ora, quem controla a moeda controla a economia, porque a moeda é o que há de economicamente mais importante, é o elo que une todos os mercados e todos os negócios. Como quem dá o mais também tem que dar o menos, os seguidores de Keynes, Rawls e Bobbio concedem ainda que o Estado socialize o investimento e estabilize a demanda. Ou seja, concedem que, no âmbito da economia, o Estado faça tudo. Já que pode tudo na economia, pode tudo em tudo. Pode estatizar a previdência, institucionalizar a caridade, organizar a vida familiar e doméstica e por aí vai. É inútil argumentar que o liberalismo clássico de John Locke e Adam Smith é o único verdadeiro, pois não há critério fora e acima dessa ideologia que permita um juízo irrefutável. O liberalismo social com sua origem em Voltaire e Rousseau tem tanto direito ao título quanto qualquer outra vertente.

Eu fiz parte de um site de debates que reunia todas as correntes liberais, inclusive muitos nomes “famosos” no meio. Fiquei tão chocado com o que se dizia nas polêmicas que saí de lá rapidinho. Era ponto pacífico, por exemplo, que o Estado pode e deve elaborar e executar o “planejamento familiar”, eufemismo para as mais degradantes e nocivas interferências estatais na intimidade das famílias, como aborto, “educação” sexual, esterilização, fornecimento de anticoncepcionais etc. Os liberais acham o povão muito ignorante e propenso a se reproduzir em excesso, daí se pede ao Estado que intervenha em nome do controle demográfico, com medidas “educativas”, mas também coercitivas, se necessário for. Não sei se algo me escapou, mas como é possível condenar a intervenção estatal na esfera individual e ao mesmo tempo exigir do Estado que se imiscua no que há de mais íntimo nessa tal esfera?

A questão do aborto merece um parágrafo à parte. Há poucas unanimidades no seio do liberalismo, e o direito ao aborto é uma delas. Mas e aquela conversa de que o inalienável direito à vida se sobrepõe a tudo? Não era um princípio fundamental? Parece que não nesse caso, pois, afinal, a “coisa” no ventre materno não é pessoa, não é ser humano, não é indivíduo. O que ela é, então? Ora, a mim sempre pareceu evidente que o ser gerado por humanos, só pode ser humano também, uma pessoa autônoma desde a sua concepção. Essa pessoa autônoma tem que ter o mesmo direito inalienável à vida tanto fora quanto dentro do ventre de sua mãe. Entender o contrário é traçar uma distinção arbitrária entre os humanos: os que já nasceram têm direito à vida, os que ainda não nasceram, não têm. Bem, distinção arbitrária entre pessoas que merecem viver e pessoas que não merecem viver lembra alguma coisa. Alguém falou em nazismo? Pois é, pessoas das raças inferiores não têm, naturalmente, direito inalienável à vida. Aliás, não são nem pessoas. São coisas. O mesmo se diga do comunismo e sua distinção entre proletários e burgueses.

Enfim, tendo verificado que a turma liberal não era a minha turma, que eu nada tinha que fazer naquele pedaço da praia do antipetismo, recolhi toalha, caniço e samburá e fui procurar outra turma.

Tuesday, October 14, 2008

Remando Contra a Maré

Antimoderne é o nome de um livrinho clássico de 1922 do filósofo francês Jacques Maritain, uma rejeição categórica, radical e visceral da cultura moderna em nome do modo de ser e de pensar católicos. Pena que o próprio Maritain tenha se deixado seduzir pelo que rejeitou e denunciou. Ele acabou queimando o que adorara e adorando o que queimara quando fez causa comum, nos anos 30 do último século, com a execrável esquerda católica francesa de E. Mounier, matriz da "nossa" mais do que execrável teologia da libertação. Maritain "evoluiu" (ou "progrediu", considerando que "evolucionismo" e "progressismo" são sinônimos ideológicos) de antimoderno a moderno. Pois eu faço questão de "involuir", de regredir. De moderníssimo (era simpatizante do PT aos dezoito anos, por exemplo) a antimodernérrimo (considero-me, hoje, um católico "pré-conciliar"). Esclareço que abominar a cultura moderna está longe de ser contra a ciência e o avanço econômico, por exemplo. É um erro deduzir o progresso saudável de uma cultura doente. O que existe de bom no mundo de hoje existe apesar do modernismo, não por causa dele. Voltarei ao assunto muitas vezes.